terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

A chave do cofre

Ele sabia o segredo do cofre. Não conhecia, mas sabia. Há uma diferença assim tão profunda entre o conhecer e o saber? É essa a pergunta que você, querido interlocutor deve ter realizado nesse instante. De cada um dos verbos, é possível dar vida aos respectivos substantivos: conhecimento e sabedoria. Mas que diabos tem isso a ver com o segredo do cofre? Posso ainda ir mais além e afirmar que ele não apenas sabia o segredo, mas detinha consigo a própria chave.
Se conhecimento, segundo o próprio dicionário dos mortais da língua portuguesa implica em saber sobre algo, por que eu insisto em fazer tamanha distinção? Talvez seja o tédio devido a falta de folia do carnaval, mas isso não vem ao caso. Ter conhecimento de algo significa possuir informação, a qual nem sempre está representada por algo que foi vivenciado. Nem sempre o conhecimento teórico teve a oportunidade de se manifestar empiricamente, um exemplo disso é a nossa capacidade científica de descrever outras atmosferas planetárias a partir da leitura de satélites. E há algo mais infundado que isso?
O pior ainda se revela quando o cientista fica preso somente a sua própria ciência. Aqueles que se restringem, limitam-se a teoria e se esquecem da prática ou do empírico. Já os empiristas dão atenção somente ao que se materializa ou ao que pode ser observado, em outras palavras, o sentimento e a emoção estão totalmente alheios nesse tipo de análise.
Parece então que toda a teoria do conhecimento se desmoronou diante dos nossos olhos. A essa altura, é possível dizer que o segredo do cofre está nas mãos do verdadeiro sábio. Os filósofos e outros tantos cientistas sejam eles moleculares, nucleares ou até mesmo sociais são seres marginais que não conseguem mergulhar afundo nos mistérios da Vida.
Mas por que somente o sábio? Ele não é um cientista de nenhum tipo, mas sim um verdadeiro filósofo da Vida, um dos poucos que não perdeu a própria humanidade. Detém uma vasta sabedoria, pois sendo o humano que é, sabe ponderar o racionalismo em relação a emoção e o sentimento. Está aí revelado o verdadeiro detentor da chave do cofre.

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Caminhando durante o amanhecer de um novo dia vejo a transformação do firmamento. As nuvens escuras tentam em vão esconder o nascer do Sol. De nada adianta, pois os raios matutinos rompem impiedosamente a escuridão da noite. É uma odisséia diária por poucos contemplada. Só assiste esse espetáculo os seres humanos que por prazer ou abrigação acordam cedo. Aqueles que preferem dormir, nada percebem, uma vez que o clarear do dia acontece naturalmente, sem fazer um barulho sequer. P'ra não dizer que é totalmente silencioso, há sempre pássaros cantando saudando com alegria o novo dia que acabou de começar.

domingo, 7 de fevereiro de 2010

Vinho Tinto

O cheiro dela ficou impregnado no corpo dele. Cheiro de amor jamais inspirado anteriormente. O colarinho estava amassado e tinha marcas de batom. A boca do rapaz estava mais vermelha em decorrência dos beijos que recebera naquela tarde. Ainda podia sentir o gosto dela.
Enquanto sonhava acordado em seu beliche o amigo entrou apressadamente no quarto chamando-o pelo nome. Assustou-se com aquela presença repentina: "Ah, se fosse ela!" e deixou escapar um longo suspiro. "Diga a eles que já vou" - e o amigo se retirou. "Lá vamos nós então" - disse para si mesmo e para os invisíveis que ali estavam e foi preparar o jantar.
Não obstante, não foi um jantar qualquer. Todos que provaram sua comida acharam que tinha um tempero especial. Indagaram sobre qual especiaria secreta utilizara dessa vez. Sorrindo, o rapaz disse somente: " É o mesmo vinho tinto de sempre" - e apontou para a garrafa ainda fechada.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

O alvorecer

Venha, segure minha mão e vamos seguir em frente. Peço apenas para que não a solte. Não há mais o que temer, pois o pior já passou. Você não percebeu que eu estendia minha mão sobre o seu peito agonizante? Não é preciso expor isso em palavras, já que elas trairiam minhas puras intenções.
Agora sugiro que pare de mirar o chão e erga os olhos para o céu. Veja como é belo o alvorecer do dia. O Sol começa a brilhar ao leste, mas ele não nasce somente para nós. Ele nasce para que toda a humanidade desperte do estado de sono para um novo dia. Dia esse que se inicia a partir de agora.
O fardo já fora entregue a mãos fortes e espirituosas. Não há mais com o que se preocupar. Você pode sentir os ombros mais leves? Isso felicita-me, suspiro agora aliviada.
Aperte firme a minha mão, até não mais poder. A viagem ainda continua e é longa. O caminho jamais será fácil. Seguiremos por estradas íngremes, passaremos por pedras, pântanos e desertos. Não obstante, haverá a Luz do Sol por toda a imensidão terrestre e os nossos amparadores continuarão guiando nossa intuição.