terça-feira, 30 de outubro de 2012

Amor em reconfiguração


O amor está em constante reconfiguração. Ou seria melhor dizer que o amor vive de reconfigurações ou ainda: de reconfigurações vive o amor? Se reconfigurando está o amor? Mas quem se reconfigura? O amor ou os enamorados? Não sei. Só sei que tudo o que está relacionado ao próprio amor demanda reconfiguração. A quem hoje tenho amor, o mesmo já não é o que foi há anos atrás. Mudou. De reconfigurações em reconfigurações foi se transformando, mas jamais se definhou.

Até uma velha senhora de oitenta e poucos anos vive a experiência da reconfiguração. Ela é um fato inexorável ao qual todos os seres humanos estão sujeitos.

Horas a fio na biblioteca




Escuto as músicas de minha alma,
Já desisti de estudar,
De escrever e de acreditar.
E ouvindo as músicas de minha alma
Penso: o que ele acharia dessa?
Sentir-se-ia emocionado
Assim como eu me sinto?
Teria um momento de epifania?
Não sei. 
Mas desejo descobrir,
A curiosidade me atinge a fundo,
Percorre o corpo todo
Do coração apertado até as entranhas.
Será este o rumor mais uma vez
De uma nova paixão?
Talvez.
E eu quero controlá-la?
Não faço a menor questão.
Olho pela janela da porta
Quase compulsivamente
Sempre que alguém entra.
Mas nunca é ele.
Ele não virá.
Ele sequer sabe o quanto nele penso
E penso, imagino e perco minutos
Horas e tardes à fio esperando na biblioteca
Bem naquela que ele mais gosta,
Na sala mais fresca,
Talvez até na mesma mesa
Que ele goste de se sentar.
E ele não aparece.
Mas quando está em minha companhia
Sempre arranja motivos para cá estar.
Mas quando aqui estou
Ele não vem.
Mal sabe ele
Quão vorazes são meus pensamentos
Cheios de segundas intenções.
Mal sabe ele
Quantas fantasias compus hoje
Apenas nesta tarde.
Mal sabe ele dos assuntos 
Tratados por minha vil imaginação.
E enquanto ele não chega,
E certamente não chegará,
Componho versos em ritmo voraz
Como se eles pudessem materializá-lo
Bem na minha frente.


Hellen Fonseca

segunda-feira, 29 de outubro de 2012


Escrevi, escrevi. 
Mas só para mim,
Só para não morrer
Sufocada
Em pensamentos,
Agonias e aflições.

Escrevi e materializei
Tudo o que me engasgava,
Mas era só para mim,
Ninguém mais lerá.

Escrevi e apaguei,
Depois que a ideia
Assim se fez concreta
Não mais houve motivos
Para ali deixá-la,
Então rasguei o papel,
A tudo deletei
Só apertando o botão.

Escrevi meus pensamentos,
Mais barulhentos que vento
Sentada na janela do carro,
Ouvindo apenas o eco
Daqueles tormentos.

Escrevi e publiquei,
Daqui há um tempo,
De certo rirei.
Seria então um final
Menos trágico
E pouco mais cômico.
Menos romântico
E pouco mais real.

*

Hellen da Fonseca 30/10/2012


O amor está em constante reconfiguração. Ou seria melhor dizer que o amor vive de reconfigurações. Ou ainda: de reconfigurações vive o amor? Se reconfigurando está o amor? Mas quem se reconfigura? O amor ou os enamorados? Não sei. Só sei que tudo o que está relacionado ao próprio amor demanda reconfiguração. A quem hoje tenho amor, o mesmo já não é o que foi há anos atrás. Mudou. De reconfigurações em reconfigurações foi se transformando, mas jamais se definhou.
Até uma velha senhora de oitenta e poucos anos vive a experiência da reconfiguração. Ela é um fato inexorável ao qual todos os seres humanos estão sujeitos.


Hellen da Fonseca 30/10/2012

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Versos


Meus versos. Quem são? O que há de mim neles? Há neles algo de mim? Quem sou eu em meus versos? Eles já vem prontos do Mundo das Ideias? O que sou eu para meus próprios versos? Sou apenas um instrumento que os faz nascer no Mundo Concreto? Platão muito diria sobre isso, mas dele só restaram as ideias.
Meus versos são a materialização de meu sentimento. Poesia é, portanto, o sentimento que tomou forma. O naipe de ouros para os tarólogos. Se minh'alma vibra na frequência de meus pensamentos, posso então dizer que meus versos são também são a representação de minh'alma.
As pessoas se vão deste mundo, mas deixam nele a representação de suas almas até que tudo se torne etéreo e os sólidos se desmanchem pelo ar.

Hellen Fonseca - 18/10/2012

Em uma noite fria de verão
A bailarina não dançava mais nas pontas dos pés,
Caia neve no deserto do Saara,
E fazia calor na Sibéria.

Os celulares ficaram mudos,
Todas as televisões foram parar no lixo,
Em São Paulo não havia mais carros,
Tampouco congestionamento.

O mundo então começou a girar ao contrário.
Houve um eclipse lunar,
Ou haveria de ser solar?
Não me espantaria se o cometa Halley tivesse passado
Naquela noite fria de verão
Que a bailarina dançava descalça
Que a neve caiu no Saara,
E o Sol despontou na Sibéria.

E esse momento terrestre repertir-se-a? 
Apenas quando caírem lantejoulas do céu,
E até lá,
Ele estará longe
Em outra dimensão.

Hellen Fonseca - 15/10/2012 

segunda-feira, 15 de outubro de 2012


Vontade de algo.
De alguém.

Que se foi,
Partiu,
Sumiu,
Desapareceu.

Vontade de algo,
Com alguém,
Que partindo
Se foi.
Desapareceu.

E apareceu 
Desaparecendo
Parecendo 
Vontade.

Hellen Fonseca - 16/10/2012