domingo, 27 de dezembro de 2009

Aleluia de Handel



E ontem tive a permissão de vislumbrar uma orquestra bem adiante de meus olhos. Chegado foi o maestro com seu pequeno bastão em mãos. Não sei se posso chamar esse objeto assim vulgarmente por esse nome. Espero então que os músicos de alta hierarquia não se ofendam com tal colocação, visto que sobre música erudita sou quase leiga.

Ao chegar frente aos músicos, fez gestos suaves comandando a todos com suas mãos. Indaguei o significado de tal gesticulação e não encontrei resposta para cada movimento em específico. A única certeza é que todos ali podiam compreender sua intenção, pois a música era deveras harmoniosa. E não somente devo atribuir esse adjetivo, pois os momentos de arrepio e comoção também foram constantes.

Ele desenhava no ar com seu pequeno bastão e todos interpretavam a intenção no próprio instrumento. Não consegui enxergar mais o maestro, mas um mágico sem cartola que fazia a magia da música surgir através da arte de movimentar sua varinha. E assim o fez por dez canções.

Ao chegar à décima primeira, tudo foi diferente. Não porque ele deixara de ser mágico, muito pelo contrário. Era chegada a hora do grande desafio do maestro para os músicos: Aleluia de Handel.

E assim fez o gesto para que entoassem a primeira nota. Não havia tanto a suavidade de outrora, os seus movimentos agora eram ágeis e para acompanhá-lo era preciso ser um músico deveras perspicaz.

Na verdade, era muito mais simples. Sua intenção era de a todo momento, desafiar os músicos a acompanharem seus rápidos movimentos, a fim de descobrirem até onde podem chegar. E assim o fez por exatos três minutos e quarenta e nove segundos quando o suor escorreu-lhe sobre a fronte. Então finalizou e agradeceu, em nome dos músicos, à platéia pelos merecidos aplausos que recebera.

sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Estrela da Noite de Natal


É quase fim da noite de Natal e daqui algumas horas vou me despedir desse dia vinte e cinco. O dia foi bem agradável com a família. Há sempre muita comida para pouco estômago digerir.

Passada foi essa data e não me esqueci de olhar para o céu. Do alto foi avistada uma grande estrela: "Estrela de Natal!" - pensamos nós ingênuos durante a ceia. Ela estava sozinha em meio a escuridão. Nos distraímos brevemente e vimos passar um avião, para o desapontamento geral da família. Depois disso não me lembro de mais estrelas. O que são elas afinal?

Sobre estrelas podemos utilizar termos científicos quase indomáveis, mas elas não tem nada a ver com isso: estão lá no alto do céu e não vão deixar de brilhar por isso. Não importa quantas fórmulas apliquemos para calcular a distância, nada mudará esse fato.

Há aqueles que desejam ser como estrelas e eu indago: por que? Elas estão aí, no alto de nossas cabeças, contudo nos fazem companhia somente a noite, quando há solidão. Devo admitir que sou deveras desconfiada acerca desses astros: será que estão vivos de verdade? - Até mesmo a mais fajuta das ciências afirma que elas possuem vida ou seja: começo, meio e fim. Será que esse brilho que tanto me fascina é oriundo de uma estrela viva? - Não sei, às vezes prefiro nem saber.

E se for como a lua que somente reflete a luz de outros corpos celetes? Será que me enamorei por uma estrela sem fonte geradora? Não há certeza de que ela seja um Sol, nem tampouco há certeza de que ela esteja viva.

Agora ainda me lembrei que existem estrelas cadentes que vagueiam no espaço durante bilhões de anos, sempre fazendo o mesmo percurso, visitando planetas e os olhos de alguns observadores. Essas são as mais incríveis, é impossível resistir à tentação de não lhes fazer um pedido. Apesar do encantamento, são as mais perigosas, pois são apaixonantes. E para revê-las, é necessário um longo tempo de espera.

Brilha no alto do céu a minha estrela de Natal, o dia vinte e seis já é quase chegado e ainda não descobri se ela ainda vive, se é um sol ou se é como a lua. Sei somente que não é cadente.



terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Um presente para o meu amigo secreto


Hoje me debrucei sobre a arte como há muito tempo não fazia. Sentei em minha escrivaninha e desenhei uma flor de oito pétalas, em seu miolo escrevi uma mensagem singela ao meu querido amigo. É chegado o Natal e essas brincadeiras se fazem com frequência nessa data. Recortei a flor, pétala por pétala e pintei-lhe todos os vértices de roxo quase lilás.

Percebendo minha demora, um ser humano muito amado ingadou se eu estava ocupada. Disse-lhe que estava fazendo um presente para o meu amigo secreto. Descrevi a Flor Mágica: veja o que acontece quando ela repousa sobre a água com todas as pétalas dobradas. E falei propositalmente, sei o quanto ele gosta de mistérios. Não obstante, disse bem cientificamente: ela abre porque a água faz dilatar o papel. Senti naquele momento como se ele tivesse afogado meu próprio Lótus. E se fosse para ele o presente? Fazia aquela flor com minhas mãos tentando trazer-lhe a vida. O seu desabrochar perante os olhos humanos seria então um milagre, mesmo sendo ela de papel.

Fiquei deveras desapontada com a falta de sensibilidade dele a ponto de comentar sobre isso. O diálogo não foi um dos melhores e logo ele saiu. Enquanto ele se ausentou, refleti e logo tratei de confeccionar uma Flor Mágica para alegrar-lhe o dia.

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

O encontro


O encontro entre o amador e a pessoa amada é sempre um momento muito esperado, pelo menos para aquele. Basta somente a presença desse para fazê-lo mais feliz, uma troca de olhares, um pequeno gesto são coisas simples que fazem o coração bater depressa quase alucinado.

Se em meio a essa pequena troca houver um caloroso abraço, mais feliz estará o amador. É como se por uns instantes, o mundo realmente parasse de girar. Não existe ninguém por perto mesmo que ambos estejam em meio a multidão. Há a concretização daquilo que acontecia somente no plano da imaginação. É um momento mágico entre o amador e a pessoa amada. São conhecedores dessa sensação somente os terráqueos mais humanos, os apaixonados como bem gostam de dizer.

Mas para todo bom encontro, mesmo ele seja breve, há sempre uma triste despedida para quem verdadeiramente ama. E não há o que se possa fazer. Deixo somente a alegria daquele momento único contagiar meu espírito e espero o mês seguinte na incerteza de abraçá-lo novamente.

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Uma roteirista


Quando é tempo do frio gosto de me sentar ao sol e nada fazer, deixo somente o tempo passar. A imaginação corre e é como se eu assistisse um filme. As vezes, ser a protagonista parece um fardo e em outros momentos, é um delírio. É sempre um romance e como toda boa história de amor, há sempre um príncipe encantado. Mas dessa vez ele não é tão encantado assim, diria somente encantador. Sem dúvida essa é uma das maiores qualidades desse ator que divide cena comigo. Olho para ele e consigo enxergá-lo por dentro, é como se eu tirasse um Raio X com os olhos. Vejo nele características de uma pessoa incomum e realmente digo que é uma existência única, rara essência. Ser sensível a isso não é uma virtude que vem de graça, pois também sou capaz de ver seus defeitos e opiniões divergentes das minhas.

Não é preciso dizer que esse é um dos de estarmos agora separados. Quanto a mim, confesso que ainda escrevo muitos roteiros pensando nele.

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

À minha Maçã do Topo



Se um dia me perguntarem o que ele significa para mim, eu diria metaforicamente: ele é a minha maçã do topo. E sei que vão me olhar com dúvida e indagarão o porquê. Então direi somente que ele é a minha maçã do topo, aquela que é mais bonita, vermelha e suculenta. E por ser tudo isso, só poderia estar no topo da macieira.

Ah minha querida maçã do topo! Que saudade eu tenho daquela época em que eu era sua gentil larva que habitava o seu interior. Abrigou-me por pouco mais de um mês e posso afirmar que fui o inquilino mais feliz do jardim.

sábado, 12 de dezembro de 2009

O Equilibrista


E um dia estando eu disfarçada disse a ele: há uma linha muito tênue que separa a perfeição da loucura. E dentro de mim pensei: caminhar sobre ela é uma dádiva dos perfeccionistas. Quanto há de insanidade em se submeter a tal empreitada? Nisso me vi sentada em uma platéia e diante de mim havia o Equilibrista e sua linha, pronto para executar o número.

A linha se encontrava no alto de um picadeiro, mas não era um circo qualquer. Era o circo da embriaguez, por isso ela não era reta. Possuía curvas e saliências ao longo de sua trajetória. Um passo em falso e a queda seria fatal: não havia cama elástica para amortecê-la. Algumas fraturas, ou talvez o pescoço quebrado - para ou teatraplégico - ou ainda um desmaio, coma ou morte.

Começou então a façanha, enquanto o equilibrista desfilava em sua própria passarela, a platéia ia a loucura, roíam as unhas, as cutículas, alguns soltavam: "ohh!" outros: "aii cuidado!!" e havia ainda os que preferiram fechar os olhos diante daquela cena. Não há nada que se possa fazer, foi ele quem desejou esse destino.

Nisso escutei sua voz: eu caminho nessa linha todos os dias - e sorriu um riso amarelo. Voltei para a realidade, despedi-me apressadamente e não nos vimos mais.

Rasga Coração


Rasga coração

Esvai-te Paixão

Esse lugar é muito pequeno

À tua morada

Saia do meu peito

E vá em busca de outro

Esse já não te serves mais,

Tu cresceras demais

E agora já não é possível

Sustentar-te aqui dentro sozinha

Por isso te liberto

Busque um coração desocupado

Que possa te abrigar

Algum que não cobre

Por nenhuma estadia

Ou por qualquer refeição.

Mas não o faça de tolo

Sejas somente Paixão

E quando estiveres bem acomodada

Sentindo o carinho e a ternura

Desse que te protege

Não percas tempo

E me apresente o dono desse coração.

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Nada como um dia, após uma noite, um mês
E novamente outro dia e outra noite, um novo mês
E o passar dos meses uma nova estação
E todos os dias e noites das quatro estações, nada como um novo ano.
E ainda outro dia, depois de outra noite, outro novo mês
Todos os dias e noites das quatro estações, mais um novo ano.
Nada como o passar de todos os dias, noites, meses e estações
E o passar de todos os anos, o fim.

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Procura-se


Finalmente chegou em casa, abriu o portão e foi correndo abraçá-lo. Procurou por todos os cantos. Onde teria se escondido? Procurou em seu quarto e não estava lá. Olhou a sala e também nada. Revirou a casa: quarto, sala, cozinha, quintal, quarto da mãe, quarto da irmã. Não estava mais em casa.

Teria o gato sumido? Não sei, pelo que tudo indica ele não estava em casa. Foi até a rua e de porta em porta perguntava pelo seu animal. A resposta era sempre negativa.

Então, de tão desesperada, de mulher fez-se um monstro chorão e desesperado. Culpava-se: se ao menos eu não tivesse saído naquela tarde, ele certamente estaria aqui.

Todos que a amam tentaram acalmá-la: pai, mãe, irmã, namorado e amiga. De nada adiantou, fez questão de ofendê-los ainda mais. Aos pais não sei ao certo o que disse, mas ao namorado disse palavras hediondas, sentiu-se ele menor que o próprio gato.

Para com a amiga, fez muito pior e por já estarem abaladas por conta de desentendimentos de outrora, fez questão de afundar o pé sobre ela ainda mais. Xingou e cutucou-lhe a ferida. Que infeliz idéia!

Disse-lhe palavras de repúdio, talvez ela jamais se esqueça disso. Quando ao seu gato, ninguém sabe ao certo sobre seu paradeiro. Caso esteja vivo, voltará para a casa. Mas e a amizade? Se fosse necessário optar entra uma coisa e outra, qual seria a escolha?

As mentes mais sãs, provavelmente escolheriam a amizade e aquele que realmente deseja ver feliz o amigo, daria mil gatos para não perdê-lo.

Até que ponto as relações afetivas dependem de um animal? - Mesmo que esse não seja uma criatura qualquer, mas aquela que se tem um sentimento mais que especial?

Falando por mim mesma, se essa amizade tivesse um custo o qual eu calculasse em "gatos", concerteza eu daria mais de mil deles, quantos ela desejasse ou melhor ainda: traria seu companheiro doméstico devolta pr'a casa. Não obstante, isso não depende de mim.

Em meio a essa reflexão, questiono então a minha significação para essa pessoa e sem muito o que fazer, decido por nada fazer, deixo estar. Somente o tempo dirá.