quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Perspectivismo

Tirei uma foto com os seus óculos
Poderia eu dizer que um dia
Eu pude olhar o mundo através dos seus olhos?
Isso é o que os antropólogos quase chamam de perspectivismo
E eu na verdade mal sei sobre essas coisas
Só ouço falar.
Fico tentando ver o mundo pelos olhos dos outros,
Quem são esses outros?
O que há de outro em mim?
E no outro, há algo de mim?
Mas se eu apenas colocesse os seus óculos
E assim em um piscar de olhos
Eu pudesse enxergar o mundo
O que então eu enxergaria?
De certo, seria um mundo tão colorido
Repleto de sentido.
Dizem que é possível perceber Deus
Através da maneira como alguém interpreta o mundo.
E olhando através de seus olhos, diria eu:
Que Belo Deus tens então!

sábado, 25 de setembro de 2010

Projetar um projeto,
Projetar-se no projeto,
Projeto de si,
Projeção de si.

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Pensar é a fardo que o homem carrega. Queria ele poder interromper qualquer vil pensamento, mas cansado ele desiste. Não consegue. O pensamento vai além das forças humanas. Pode-se estar amarrado, mas não é possível contê-lo. Ele vai para longe, a lugares inóspitos e até inimagináveis. Basta pensar em um lugar que não existe que em um piscar de olhos, ele passa a existir no imaginário do humano que o criou.
E não é somente. O homem se une ao extrafísico também através do pensamento. É ele o veículo que os humanos e terráqueos utilizam, sem perceber, para comandar o Universo. Qualquer existência que habita esse planeta impulsiona o Universo e ele responde de igual maneira, mas em sentido oposto. Daí então o porquê de muitos sábios dizerem que o homem depende de seu pensamento.
Se uma grande maioria da humanidade passasse a impulsionar o Universo de forma positiva, que grande mundo surgiria? - E então, quem sabe entender-se-ia melhor Deus ao invés de buscar sua essência criadora em um patético acelerador de partículas.

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Se as fotografias tivessem som

Ah se as fotografias tivessem som, eu de certo viajaria no tempo e rememoraria cada instante da infância - que já não é mais récem-acabada. É engraçado como a nossa própria mente ilude a nós mesmos: não me lembro mais dos fatos como antes. Parece que a cada novo ano que se chega, mês ou ainda a cada novo dia que se inicia, parece que vou perdendo um pouco das lembranças do meu passado - até mesmo aquele que era o mais roteneiro de todos, como acordar para ir à escolinha e chorar no portão da entrada implorando à mãe para que não me abandonasse. O que havia ali que tanto me amedrontava? - Não sei, eu já não me lembro mais.
E assim vivo a vida. A cada novo dia um a menos para se recordar. Cada pessoa que se chega, é porque uma teve que partir. E ela não parte por assim desejar, na verdade ela sequer percebe que se foi. Os dias correm tão depressa como as vidas das pessoas, e com o passar das semanas e posteriormente alguns meses, e quando se dá conta: onde está aquele alguém que me era tão importante? - Ele já não está mais ali, cotidianamente como antes. E nisso, vem aquela pontada de saudade seguida de uma angústia, assim tão humana... e então procuramos nos recordar dos momentos vividos ao lado de pessoas incríveis, provocando o nosso vil cerébro e o obrigando a se lembrar de fragmentos históricos que fazem parte da nossa vida.
*
*
*
Hellen da Fonseca 15/07/2010

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Letra de menino

Entre muitos papéis que habitam a minha agenda, encontrei o nome dele escrito. A letra não era a minha, não havia excessos, volteios ou enfeites como manda o estereótipo feminino. Lembrei-me então daquele dia quando o abordei para pedir o telefone. Era um assunto qualquer. Aniversário de amigo. Por que não convidá-lo? Ótimo pretexto. E foi o que fiz.
Sem opção, ele escreveu num pedaço de papel que eu mesma arrancara da minha agenda. Como dói pensar em arrancar as folhas! - Mas como era para ele, ah... não me custou nada, do contrário, foi um prazer. E quando ele escreveu, guardei carinhosamente e até me esqueci do papel. Ficou morando no interior de minha agenda durante alguns meses. E enquanto isso, nossas vidas transcorriam normalmente. Não foi preciso nenhum pedaço de papel para nos aproximarmos - nos encarregamos de fazer isso espontâneamente. Foi como fechar os olhos e sonhar acordada. Quando abri, já estávamos nos beijando.
E ainda confesso que esse precioso pedacinho de papel ficou perdido entre minhas inúmeras anotações, até que hoje finalmente o encontrei. Apareceu enquanto eu folheava as páginas, rememorando a vida de frente pra trás. E aquele papelzinho... tão singelo e tão especial. Onde tudo começou.
De tão boba, comecei a reparar em todos os trejeitos e em todos os elementos que compõem aquela obra prima. A letra é de menino mesmo, de forma, simples. O número oito não é desenhado como o do infinito. É somente uma bolinha com outra menor em cima. Tampouco, não é menos bonita - mas dá pra ver que é de menino.
O que será que ele pensava de mim quando me entregou esse papel? Será que consigo enxergar nos traços os mistérios de sua Alma? - A psicologia inventou uma técnica perspicaz que muito diz acerca da personalidade Humana quando se analisa a caligrafia. O que diriam sobre ele?
Talvez ele não pensasse em nada, como um ingênuo que não percebeu as minhas intenções de mulher. Ou percebendo-as, se fez de bobo p'ra pensar que fui eu quem o conquistei. Não sei, são cogitações. Somente aquela Alma Humana, que hoje chamo de Amor, pode esclarecer as minhas dúvidas. Mas confesso que ainda não quero deixar de tê-las, não é preciso trazer tudo à luz. Reserva um pouco para a curiosidade, que daí também se faz crescer o amor - é o que me diz a minha vil consciência.
E agora mesmo, olhando para esse pequeno pedaço de papel, sinto saudades dele.
*
*
*
Hellen Fonseca 07/07/2010

sexta-feira, 28 de maio de 2010

É noite ensolarada pela lua cheia
No planeta dos terráqueos
Ou na terra dos humanos.
E todos eles, salvo exceções
Seguem suas vidas sistematicamente
E nem sequer percebem
Que a perfeição se encontra ali
Bem em cima de suas cabeças.
*
Há alguns humanos em crise
Reconstruindo a si mesmos
Num processo dialético profundo
E incessante
Inquebrantável
Legítimo
Inexorável.
*
São tantos conceitos tão humanos
Que é preferível
Desligar o botão do racionalismo
E entoar um mantra
Ou ligar uma música qualquer.
*
*
*
Hellen Fonseca - (28-05-2010)

sábado, 1 de maio de 2010

O Capitão do Mar

Do alto da ribanceira
Vi passar um barco
Guiado por um jovem
Cujo olhar fitava o horizonte.
Ele passava tão determinado
Que sequer notou
A dama que estava
No alto da ribanceira
Acenando-lhe com um lenço.
*
E ele seguiu viagem,
Cujo destino é o desconhecido
Talvez nem ele mesmo saiba
Em que águas desembarcará,
Se irá p'ra outro mundo
Para as Terras do Sem Fim.
Não sei,
Só sei que ele não para.
Não cessa um instante sequer
Rema contra a correnteza,
Deixa o suor escorrer pelo corpo
Mas nem por isso para de remar.
*
E assim ele se foi
Até sumir das vistas
De qualquer ser vivente.
Nem da mais alta ribanceira
Era possível enxergá-lo.
-Agora ele já está longe,
Cruzando os Hemisférios
E as linhas imaginárias
Da mente humana,
Dizia a dama para si mesma.
*
E ela, sem muito o que fazer
Usou o lenço p'ra secar as lágrimas
Deu as costas para o rio
E nunca mais olhou para ele.
Seguiu sua vida normalmente,
Sobreviveu às chuvas de granizo,
Aos ventos da tempestade,
E às longas madrugadas frias.
Tampouco, não deixou de amá-lo.
*
E um dia ele voltará
Ah, ela sabe que voltará
Por mais que lhe digam que não.
Quando se escolhe amar
Um homem do mar
Renunciada é a companhia
Os momentos de espera
São quase eternos,
E a paciência feminina
É a melhor das virtudes.
*
*
*
Hellen Fonseca 02/05/2010

sábado, 24 de abril de 2010

Enquanto a chuva não vem

- A chuva não veio.
- Espera que ela chega
E cai de mansinho
Sem que você perceba.
- Mas olhe para o céu,
Ele já está se abrindo!
Onde está a chuva?
Ela se foi,
Voou p'ra outras bandas.
- Não, ela ainda está aí,
Bem em cima da sua cabeça,
Ela gosta de brincadeiras,
Assim como você.
- Ah, ela gosta de esconde-esconde!
E não é que ela conseguiu,
Me enganou direitinho!
Tudo bem dona Chuva
- disse voltando-se ao céu
- Vou fazer outras coisas
Enquanto você não vem.
*
E foi o que ela fez,
Aproveitou o resto do dia
Mesmo com pouco sol
E muitas nuvens.
Pisou sobre a grama
E aquela foi uma tarde
Como outra qualquer,
Mas não para ela.
Brincou, pulou e se divertiu
Como não fazia há algum tempo
E aquele dia normal,
Tornou-se um momento único.
*
E a chuva?
Até se desapegou dela
Mas ela não se esqueceu de cair,
E caiu de mansinho
Como a mãe havia descrito.
E sorrindo para ela, disse:
- Agora cai a chuva,
Já é chegada a hora de dormir,
Boa noite mamãe.
Beijou o rosto da mãe
E foi ao quarto.
Dormiu um sono profundo
Que no dia seguinte
Até se esqueceu de acordar,
E dormindo permaneceu
Por vários dias
Até não mais acordar.

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Pássaros na gaiola

Pássaros na gaiola
Não cantam
Em canto algum,
Não cantam
Em lugar nenhum,
Ao contrário
Dos que longe voam
Que cantam
Em lugar qualquer.
*
E assistindo o coro
Dos pássaros
Que longe voam
Mudos ficam
Silenciam os pios
P'ra ouvi-los cantar.
*
Vivem engaiolados
Resignados
Ao egoísmo humano
De um terráqueo
Que por vaidade
Os prenderam.
*
E assim os cativos
Vivem suas vidas
Comendo e piando
Há ainda aqueles
Que arriscam o canto
Soltam alguns acordes,
Mas nada adianta.
Passarinho na gaiola
Não canta canto algum,
Lamenta.
*
*
*
Hellen Fonseca 23/04/2010

domingo, 11 de abril de 2010

Um marrom chamado castanho

Não há nesse mundo
Marrom artificial algum
Que me apraz os sentidos,
Nem mesmo o da toalha
Que utilizei ainda há pouco
Após o banho diário.
Tampouco, não quer dizer
Que não há em mim
Sentimento algum de gratidão
Pelos pertences que possuo.
*
Mas há algo incomum no marrom,
Faz despertar em mim
Vibrações estranhas,
Medo
Fobia
E por que? Não sei.
Talvez um médium
De alta hierarquia saiba.
*
Há nesse mundo apenas um marrom
Que verdadeiramente me apraz
E é o marrom dos olhos dele
E por muito me aprazerem
Prefiro chamá-los castanhos.
*
E quando os castanhos dos olhos dele
Se encontram aos meus quase verdes
Que bela mistura de cores não seria?
Não obstante, isso não acontece mais
Não consigo olhá-lo nos olhos.
Não posso,
Sinto medo,
É mais forte que eu.
E é tão grande
Que consegue superar a fobia
Que sinto por mil toalhas marrons.
*
*
*
Hellen Fonseca 11/04/2010

Em qualquer lugar do mundo, num lugar qualquer

Se existisse em algum lugar do mundo
Uma casa com paredes macias
Eu de certo a compraria
Pr'a abrigar o nosso amor,
Num lugar bem aconchegante
E protegido do frio do inverno
E do calor exaustivo do verão.
Existe nesse mundo
Casas cujas paredes são de barro
Ou de laje cimentada,
Essas sem dúvida
São as mais frias e gélidas
E não servem p'ra nós dois.
Um dia eu vou encontrar
Ou eu mesma irei arquitetar
Uma casa cujas paredes
Sejam de cetim e o chão de veludo
Pr'a abrigar o nosso amor.
Mas ainda me lembro
Que é do tipo aventureiro
E prefere uma palafita
A um palácio Imperial.
De luxo nada temos
E não me queixo
De me abrigar contigo
Em qualquer lugar do mundo
Numa barraca qualquer.
*
*
*
Hellen Fonseca 11/04/2010

Clareira em meio a noite escura

Dirigindo a longa estrada e rasgando a noite, tudo estava tão escuro como se tivessem apagado a Luz de todo o Universo e nenhum ser celestial sequer se lembrou de reacende-la. Sem opção, continuei a acelerar o veículo pela noite adentro e optei por utilizar o farol alto. A luz era intensa a ponto de ofuscar a vista de alguns motorista que passavam por ali no sentido oposto, rumo ao centro da cidade.
E naquela noite escura de outono pude avistar uma clareira: "Eles ainda estão me esperando" - pensei. Acelerei o carro até atingir a marca dos cem quilometros por hora, o que significa alta velocidade para aquela estrada recém reformada cujo destino final dava para os sítios e chácaras. É nesse lugar que vivem os humanos que ainda gostam de verde e rejeitam a poluição.
Abri o portão e estacionei o carro no mesmo lugar de costume. Peguei meus apetrechos e entrei naquele aconchego o qual prefiro chamar de Lar. Papai cochilava no sofá e mamãe falava ao telefone com a filha mais velha. Logo ela desligou e soltei um caloroso "Boa noite família!" - papai abriu a pálpebra cerrada e a mãe soltou um suspiro - finalmente a família estava completa.
*
*
*
Hellen Fonseca - 09/04/2010

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Aos meus camaradas

Desejo agora um murro
De preferência na cara
De um alguém qualquer
P'ra acalmar-me os nervos
E descontar toda raiva
Desse dia agourento.
*
Um murro certeiro
Bem em cheio no olho
Ou no nariz pontudo
Ou em uma boca
Repleta de dentes
Cujo sorriso é metálico.
*
Um murro p'ra obstruir
E fazer sangrar as veias.
Desse soco quem sabe
Minha mão se faça doer
Mas não há problema
O que realmente importa
É o inimigo cambalear
E quem sabe cair.
Aí então eu gargalharia
Até não mais poder
Daria risos maquiavélicos
Até os olhos chorarem.
*
Malditos são eles
Não se cansam
Não se cansam de me trair.
Malditos olhos
Quase verdes
Que não conseguem dissimular
Que não sabem disfarçar
Sentimento d'amor.
*
Desejo a insensibilidade
De um cético qualquer,
Talvez um engenheiro
Ou um cientista social marxista
Ou um filósofo materialista
P'ra não mais trair a razão
E não mais trocá-la
Pelo espiritualismo mundano
Pela sensação metafísica
De não pertencer a esse lugar.
*
Desejo agora um murro
Não em algum rosto vivente
Mas em mim
De preferência nesses olhos
Quase verdes
Que não sabem dissimular
Sentimento d'amor
Ou quem sabe um soco
Nessa cabeçorra
Que não cessa o pensamento
Um instante sequer.
*
-Dai-me um pouco de sossego,
Oh vil pensamento.
Tu não te cansas de pensar?
Pois saiba que eu canso
De digerir tais informações.
Elas são densas demais
Não há algo mais sutil p'ra se pensar?
Algo mais...
Leve,
Delicado,
Macio,
Suave...?
*
A consciência às vezes
Precisa de um refúgio
Pr'a acalentar os pensamentos
E recuperar um pouco
Daquela antiga esperança
Que fora depositada
Sobre a espécie humana.
*
Não obstante,
Não encontrei ainda
Refúgio em ambiente urbano
Capaz de conter meu vil pensamento.
Só o achei no subjetivismo
No encantado Mundo das Idéias,
No Mundo Ideal
Ou se preferir, no Paraíso.
*
E cá estou eu de volta
Ao bom e velho espiritualismo
Mais ideal e menos mundano
Como matéria consciente
Cuja Essência Divina busca a forma.
*
*
*
(Hellen Fonseca - 07/04/2010)

domingo, 21 de março de 2010

Quando ele deixou o meu amor p'ra trás

I
Quando ele deixou o meu amor p'ra trás
A brisa da manhã soprou em meu coração
E a tarde choveu toda a chuva do mês de Setembro
Tudo desaguou naquele dia.
E quando finalmente chegou a noite
Ela veio fria como um granizo
E assim foram os dias
Durante seis longos meses.
II
Quando ele deixou o meu amor p'ra trás
Aprendi a desenhar um coração no papel sulfite
Com um colorido bem desbotado
E o entreguei a alguns tolos,
E eles realmente acreditaram
Que aquele pseudo coração possuía Vida
E que ainda batia por eles.
Passado um certo tempo,
Contei-lhes a verdade,
E a ambos ordenei que o jogassem fora.
O primeiro amassou
E o segundo rasgou em mil pedacinhos.
Mas não importa.
Nenhum dos dois sequer doeu
Nãoi eram corações de verdade,
Eram mentiras que eu mesma inventara
Pr'a dar cabo da minha própria carência.
III
Quando ele deixou o meu amor p'ra trás
Desci de olhos abertos
Por todos os níveis do Inferno
E lá não era quente como diz a lenda
Era o contrário,
Frio e seco como um deserto.
E havia inúmeras vozes gritando
E muitas Almas sofrendo.
Ouvi um estalo e voltei à vida.
De ponto mesmo parei de viver?
IV
Foi há exatamente seis meses
Quando ele deixou o meu amor p'ra trás
Mas o Amor em meu coração
Ainda estava ali e batia,
Do mesmo jeito de outrora,
Ainda que estivesse jogado pelos cantos.
Tomei o pobre coração nas mãos
E devagar, assim bem delicada
Introduzi em meu peito
E assim me senti viva novamente.
E se ele desejasse a minha companhia
Sem titubear eu o acompanharia
Por todos os umbrais que fosse designado a andar
E por todos os paraísos que visitasse
Mesmo sem permissão para entrar em alguns
Paciente eu o esperaria voltar p'ra casa
E o receberia com um riso de saudade.

Não obstante, temos muito a fazer
Aqui nesse planeta azul chamado Terra
Há muitos terráqueos precisando d'ajuda
Por isso, deixamos o nosso amor p'ra trás
Pr'a um outro momento,
Pr'a uma outra ocasião
E quem sabe um novo recomeço.

Fireflies




Fireflies


Above the sky


They shine inside my eyes


And I remember the old days


When I was a little kid


The ancient innocence


Then I asked to my old sister:


-Why does the moon follow us all night long?


Unfortunately, I found the answer.

domingo, 7 de março de 2010

A Maçã do Jardim do Éden

Olhando para o alto da macieira, avisto a minha Maçã do Topo. Na verdade, já não sei mais se posso chamá-la desse modo, portanto, é melhor dizer que está adiante de mim aquela que um dia fora a minha Maçã do Topo. E a cada mês que a encontro no Jardim do Éden, ela está mais brilhante.
Estando eu camuflada em meio a natureza, admiro-a, ora de longe ora de perto. As vezes nossos olhares se cruzam e avermelhadas ficam as minhas maçãs do rosto. E a Maçã do Topo reage quase indiferente aos meus olhos. Há momentos que eu consigo até ler seus pensamentos: "Oh vil e teimosa Larva, por que tu és tão insistente? Já sabes muito bem que não posso mais abrigar-te! Vá e siga tua vida sem mim."
Se são pensamentos verdadeiros ou errôneos não sei. Apenas ouço o conselho e sigo adiante. E no meio do caminho encontro outras Maçãs que não habitam e nem desejam habitar a Macieira do Jardim do Éden. Há sempre uma que me ofereça abrigo e muito ingênua tenta me cativar. Infelizmente é em vão, pois logo é chegado o momento de seguir rumo ao Paraíso.

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

A chave do cofre

Ele sabia o segredo do cofre. Não conhecia, mas sabia. Há uma diferença assim tão profunda entre o conhecer e o saber? É essa a pergunta que você, querido interlocutor deve ter realizado nesse instante. De cada um dos verbos, é possível dar vida aos respectivos substantivos: conhecimento e sabedoria. Mas que diabos tem isso a ver com o segredo do cofre? Posso ainda ir mais além e afirmar que ele não apenas sabia o segredo, mas detinha consigo a própria chave.
Se conhecimento, segundo o próprio dicionário dos mortais da língua portuguesa implica em saber sobre algo, por que eu insisto em fazer tamanha distinção? Talvez seja o tédio devido a falta de folia do carnaval, mas isso não vem ao caso. Ter conhecimento de algo significa possuir informação, a qual nem sempre está representada por algo que foi vivenciado. Nem sempre o conhecimento teórico teve a oportunidade de se manifestar empiricamente, um exemplo disso é a nossa capacidade científica de descrever outras atmosferas planetárias a partir da leitura de satélites. E há algo mais infundado que isso?
O pior ainda se revela quando o cientista fica preso somente a sua própria ciência. Aqueles que se restringem, limitam-se a teoria e se esquecem da prática ou do empírico. Já os empiristas dão atenção somente ao que se materializa ou ao que pode ser observado, em outras palavras, o sentimento e a emoção estão totalmente alheios nesse tipo de análise.
Parece então que toda a teoria do conhecimento se desmoronou diante dos nossos olhos. A essa altura, é possível dizer que o segredo do cofre está nas mãos do verdadeiro sábio. Os filósofos e outros tantos cientistas sejam eles moleculares, nucleares ou até mesmo sociais são seres marginais que não conseguem mergulhar afundo nos mistérios da Vida.
Mas por que somente o sábio? Ele não é um cientista de nenhum tipo, mas sim um verdadeiro filósofo da Vida, um dos poucos que não perdeu a própria humanidade. Detém uma vasta sabedoria, pois sendo o humano que é, sabe ponderar o racionalismo em relação a emoção e o sentimento. Está aí revelado o verdadeiro detentor da chave do cofre.

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Caminhando durante o amanhecer de um novo dia vejo a transformação do firmamento. As nuvens escuras tentam em vão esconder o nascer do Sol. De nada adianta, pois os raios matutinos rompem impiedosamente a escuridão da noite. É uma odisséia diária por poucos contemplada. Só assiste esse espetáculo os seres humanos que por prazer ou abrigação acordam cedo. Aqueles que preferem dormir, nada percebem, uma vez que o clarear do dia acontece naturalmente, sem fazer um barulho sequer. P'ra não dizer que é totalmente silencioso, há sempre pássaros cantando saudando com alegria o novo dia que acabou de começar.

domingo, 7 de fevereiro de 2010

Vinho Tinto

O cheiro dela ficou impregnado no corpo dele. Cheiro de amor jamais inspirado anteriormente. O colarinho estava amassado e tinha marcas de batom. A boca do rapaz estava mais vermelha em decorrência dos beijos que recebera naquela tarde. Ainda podia sentir o gosto dela.
Enquanto sonhava acordado em seu beliche o amigo entrou apressadamente no quarto chamando-o pelo nome. Assustou-se com aquela presença repentina: "Ah, se fosse ela!" e deixou escapar um longo suspiro. "Diga a eles que já vou" - e o amigo se retirou. "Lá vamos nós então" - disse para si mesmo e para os invisíveis que ali estavam e foi preparar o jantar.
Não obstante, não foi um jantar qualquer. Todos que provaram sua comida acharam que tinha um tempero especial. Indagaram sobre qual especiaria secreta utilizara dessa vez. Sorrindo, o rapaz disse somente: " É o mesmo vinho tinto de sempre" - e apontou para a garrafa ainda fechada.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

O alvorecer

Venha, segure minha mão e vamos seguir em frente. Peço apenas para que não a solte. Não há mais o que temer, pois o pior já passou. Você não percebeu que eu estendia minha mão sobre o seu peito agonizante? Não é preciso expor isso em palavras, já que elas trairiam minhas puras intenções.
Agora sugiro que pare de mirar o chão e erga os olhos para o céu. Veja como é belo o alvorecer do dia. O Sol começa a brilhar ao leste, mas ele não nasce somente para nós. Ele nasce para que toda a humanidade desperte do estado de sono para um novo dia. Dia esse que se inicia a partir de agora.
O fardo já fora entregue a mãos fortes e espirituosas. Não há mais com o que se preocupar. Você pode sentir os ombros mais leves? Isso felicita-me, suspiro agora aliviada.
Aperte firme a minha mão, até não mais poder. A viagem ainda continua e é longa. O caminho jamais será fácil. Seguiremos por estradas íngremes, passaremos por pedras, pântanos e desertos. Não obstante, haverá a Luz do Sol por toda a imensidão terrestre e os nossos amparadores continuarão guiando nossa intuição.

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Uma siesta em qualquer lugar, num lugar qualquer



Cansado ele dorme facilmente
Em qualquer lugar que encoste
Pode ser sentado no ônibus
Ou segurando a alça do metrô.

Não descobri nada que impedisse
Não existe remédio para o sono
Apenas algumas horas de repouso
Ou um cochilo num lugar qualquer.

Estando ele muito cansado
Apaga sem querer nas cerimônias
Até mesmo no volante do carro
Aí o sono se torna perigoso.

Quando estava nos meus braços
Cansado, deitou-se ao meu lado
E dormiu enquanto eu estava la
Acordada ouvindo sua respiração.

E depois que nos separamos
Ele continuou a ser o mesmo
Dormiu durante meu desabafo
Não sabia eu se ria ou chorava.

Na dúvida, nada fiz apenas calei
E ele envergonhado se desculpou
Retirou-se. Não fez por maldade
Eu conheço bem aquele coração.

As maçãs do rosto dela


Sorrindo um riso tímido ele se aproximou e sentou no banco da praça ao lado dela. Linda garota cujo olhar era perdido. Não estava nem um pouco distraída. Prestava atenção a tudo o que acontecia a sua volta apenas com o olhar periférico, fixado numa árvore prateada. Isso provocava ainda mais o pobre rapaz, também tímido. Ele fazia de tudo para que os olhares se cruzassem. Talvez, ele mesmo desejasse que isso não acontecesse, contudo o antagonismo de sentimento que pairava naquele coração juvenil era constante.

Cansado de dialogar sem ter o olhar retribuído, interrompeu abruptamente: "Por que tu não me olhas nos olhos?" - E as maçãs do rosto dela se tornaram realmente maçãs vermelhas. A garota virou e finalmente encarou o rapaz. Fez somente por impulso, mas olhou-lhe diretamente nos olhos, quase sem piscar. Engoliu seco, agora ela não tinha escapatória.

"Não sei." - Não mentiu, todavia não lhe disse a verdade. E ela era mesmo necessária? Acho que não. E o jovem também deve concordar que não era mais necessário fazer qualquer declaração. Sorriu agora um riso de contentamento e segurou a mão da moça. Era gelada, mas havia muita vida naquele corpo. Aproximou os lábios daquele rosto macio e sentiu todo o fervor. Pensou consigo mesmo: "Como pode a mão ser tão gelada enquanto as bochechas são tão inflamadas?"

Naquele instante então percebeu o quanto era amado por aquela jovem. Não teve pressa para beijar aquela boca. Continuou acariciando e brincando com aquelas mãos frias até o fim daquele dia ensolarado.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Sexta-feira

O que se procura incessantemente numa noite fria de verão com o computador ligado sem ter o que fazer nessa pequena cidade em que o tédio anda solto na casa das pessoas que preferem sair para as ruas e bares para não encontrar com ele na forma de sono porque não desejam dormir cedo nessa noite de sexta-feira que é fria mas ainda é sexta e como é o dia que antecede ao sábado não se pode ficar em casa porque há tédio e são doentes aqueles que preferem o tédio a ficar com os amigos e uma boa cerveja ou uma dose de Red Label com muitas risadas de mulheres bonitas gargalhando alto cada vez mais alto gritando e gargalhando para além do que a corda vocal pode suportar até ela acordar no dia seguinte rouca ou até mesmo sem nenhuma voz de tanto que riu naquela noite de sexta-feira e de ressaca apenas consegue grunhir de satisfação porque achou o que procurava numa noite fria de verão com o computador desligado
O que vamos fazer hoje à noite?
O céu está cor de rosa em um tom quase lilás
O ar está frio para uma noite de verão.
A grama em volta da casa ainda está molhada
Não sei se é orvalho ou se chuviscou
Mas esse lugar tem um odor diferente
Tem cheiro de capim...
Sim, capim!
E há espécies de animais que se alimentam dele
Pobre capim...
Vejo-o ser triturado pelos dentes dos queridos cavalos do meu pai
Gordos por falta de sela
Pastam aqui e ali, sem preocupação nenhuma
Defecam cá e lá em espaços quase demarcados
Brincam e brigam entre si com pequenas mordidas
E ao nos verem chegar caminham em nossa direção
E quando nos encontram cheiram nossas mãos
Como piratas procurando o baú do tesouro
Mas na verdade são somente cavalos gulosos
Que sempre encontram cenoura e pão em mãos humanas
Mastigam e engolem tudo o que oferecemos
E ainda ficam por perto para que lhes cocemos as orelhas.
Às vezes digo ao meu velho:
"São almas caninas encarnadas em corpos de cavalos"
E ele sorri satisfeito olhando para sua criação.

sábado, 16 de janeiro de 2010

Soneto I

Ah meu Eterno Amor
Se fosse eu vosso Guardião
Sacramentaria meu corpo
P'ra tocar vosso santuário.

Afugentar-vos-ia dos inimigos
Livrar-vos-ia dos infortúnios
Velar-vos-ia durante o sono
P'ra que seguro sonhasse.

Em vossa servidora há saudade
Salgada e corrosiva
Como as águas do Mar Morto.

Eis me aqui agora
Profanada pelo doente desejo
De possuir-vos de corpo e Alma.

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

A cidade sem fim

Já era fim de tarde e os raios solares ainda eram intensos. As pessoas seguiam suas trajetórias cotidianas, os adultos pelas ruas e os pequenos corriam pelos quatro cantos da cidade. Apesar da vida difícil e quase sem recursos, aqueles seres humanos ainda eram capazes de sorrir em meio ao cheiro de esgoto a céu aberto e a escassez de alimentos.
Era o dia doze de Janeiro desse mesmo ano e o relógio marcava quase cinco horas da tarde quando a terra tremeu na imensidão daquela ilha situada um pouco acima da linha do Equador. Foi tão intenso que alterou bruscamente o eixo de vida de cada ser vivo habitante desse local. Casas, prédios, construções tudo estava ao chão. Sobrou somente pedra sobre pedra e entre elas, corpos agonizantes lutando pela sobrevivência.
Enquanto a tragédia acontecia, a Terra não parava de girar e o tempo não parava de correr. A bolsa de valores não interrompeu o pregão diário e os políticos não cessaram suas maracutaias. O capitalismo não parou para assistir o esmorecer de um país de terceiro mundo. Confesso que eu mesma voltava de viagem enquanto as primeiras notícias corriam pelos principais jornais brasileiros.
Ninguém imaginaria que tal desgraça pudesse assolar a cidade, talvez um vidente, mas ainda que ele pudesse fazer tamanha previsão, não seria capaz de poupar a vida de milhares de pessoas. O tremor estava fadado a acontecer.
Pessoas de todo o mundo, em várias partes do globo terrestre então se perguntam: por que? Por que a Terra ou sorte escolhera um país tão desgraçado para um terremoto de tamanha intensidade? - Descontentes, ficaram sem respostas.
O lugar esquecido agora se tornou manchete dos principais jornais internacionais. Le Monde, New York Times, La Repubblica, El Mundo, The Sunday Times entre tantos outros que não caberiam aqui. Será que agora, acidentalmente encontraram uma forma de chamar a atenção das grandes potências mundiais? Todos se sentem quase obrigados a prestar auxílio ao país em ruínas. Somente por piedade? Trata-se de uma diplomacia política ou altruísmo verdadeiro? Não sei, somente o coração dos líderes de nações saibam responder a esse questionamento.
Não tenho dúvidas de que dentro de alguns anos vão sair manchetes nos mesmos noticiários sobre uma Fênix que nasceu pouco acima da linha do Equador. Ela inspirará força e determinação aos demais países de terceiro mundo. Servirá de modelo para muitos.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Gotas d'chuva

A chuva se alastrou pelo litoral, mas não veio sozinha. Zéfiros soprou a ventania e Zeus ainda não contente lançou raios e trovões sobre a crosta terrestre. Nesse instante não estava em casa, tampouco não me faltou abrigo e nem mesmo companhia, mesmo que todos estavam num estado de espírito que oscilava entre o medo e o nervosismo.
Nada fiz. O que eu poderia fazer? Certamente eu pararia o veículo, mas talvez essa escolha não fosse a mais acertada. O motorista continuou a guiar o carro pela noite adentro e pela chuva afora. Fazia isso sem enxergar ao certo o que viria pela frente. O para-brisa fazia seu trabalho em ritmo alucinado. Contra a nossa direção um carro surgiu. Aproximava-se cada vez mais. A velocidade também aumentava. Nosso guia freou e passou a andar pela metade do acostamento.
Foi por pouco, mas estavam todos sãos e salvos. A chuva, entretanto não cessou. Continuou frenética por todo o caminho de casa, até que finalmente a entrada para o condomínio foi avistada. O veículo entrou mais do que depressa, agora era preciso encontrar a rua de casa. Seguimos pela principal e a chuva começou a abrandar. Agradecemos pela permissão de continuarmos a viver, isso realmente foi uma dádiva concedida naquele instante momento.
Depois de me perder em pensamentos escutei o motorista puxar o freio de mão. Desci do carro e olhei para o céu. Poucas gotas d'chuva caíram sobre minha fronte.

Flutuando . . .


Quando o mar está agitado e repleto de ondas, não perco tempo na areia da praia. Vou de encontro a ele para humildemente desafiá-lo. Às vezes, ele não tem piedade dos seres humanos que nele habitam momentaneamente e assim, lança ondas ferozes contra tudo e todos. Conversas são interrompidas e gritos surgem. Casais que antes se beijavam agora interrompem a ação. É cada um por si.

A onda estoura na direção de todos. Mães, protejam suas crianças! Ela vem forte, espumante e salgada. Alguns mergulham até sentirem que ela passou; outros permanecem de pé para senti-la bater nas costas. Há ainda espíritos mais audaciosos que gostam de pegar uma carona até a beira da praia. É um espetáculo que acontece durante todos os instantes do dia.

Quando são dias de calmaria, não há muito o que fazer. Gosto somente de flutuar sobre a superfície do mar. É quase relaxante.

A mente está sempre em estado de alerta, contudo às vezes me vejo perdida em pensamentos. É nessas horas que a consciência migra junto a ele e as lembranças são recorrentes. O que faríamos se nos encontrássemos ali, livres e por acaso mesmo após tudo que acontecera? Sem perceber acabo fantasiando situações que jamais poderiam ocorrer naquele momento. Volto à realidade ao relembrar de seus estranhos gestos e palavras. Essas nuvens se tornam minhas companheiras durante o resto do dia até serem finalmente dissipadas por uma longa noite de sono.

Em meio a maré


Sempre que viajo ao litoral estou sozinha. Não diria isso no sentido de estar desacompanhada de pessoas, mas sem a companhia de um grande amor. Por causa disso, quando estou a brincar em meio as grandes saias do mar, me vejo reparando nos demais casais que se beijam. Sei que o repúdio sentido nesse instante é uma grande pontada de inveja. Quando percebo esse sentimento ruim assolar o coração, olho adiante e vejo chegar mais uma grande onda do mar. E assim esqueço o resto.

Escarpas da Serra do Mar

Viajar pelas escarpas da Serra do Mar pode parecer enjoativo para uns e maravilhoso para outros. Tudo depende do pensamento do viajante. Se ele pensa somente nas curvas e no movimento do veículo, a náusea certamente surgirá nesse corpo. Contudo, se ele abaixar o vidro do carro, enxer os pulmões de oxigênio recém produzido pelas árvores, ele sentir-se-á renovado.
Melhor ainda se ele centrar sua atenção para além do veículo, terá a permissão de ter, diante do olhos, uma pequena amostra do paraíso terrestre. Lá do alto da serra, é possível visualizar o azul do mar e a branca barra da saia de Iemanjá. Todo esse quadro é uma bela pintura do Creador cuja moldura são as nauseantes escarpas da Serra do Mar.

sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

P'ra acalmar meu coração

Venha Amor, venha ver
Mas por favor sem demora
O pôr-do-sol está lindo
É todo laranja e dourado.
Ah que fotografia perfeita!
O céu está cinza aí na capital
Porque sei que ainda chove
Portanto, não perca tempo
E venha ver esse belo espetáculo.
Há ainda um imenso arco-íris
Rasgando o céu de fora a fora
E ao fundo as nuvens são cinzas
(acho que vieram daí da capital)
Mas se você olhar o lado oposto
Verá os raios derradeiros do Sol
Despedindo-se alegremente
No primeiro dia do ano.
Há quem diga que sem dúvidas
Essa foi a melhor forma que Deus
Encontrou para finalizar esse dia.
E realmente Ele é deveras perfeito
Em tudo que faz nesse Planeta Terra.
É uma pena que há trânsito na capital
E que o corpo físico ainda não pode
Deslocar-se tão facilmente assim,
Num curto espaço de tempo em minutos.
Dizem que nossas Almas são etéreas
São leves e puras e podem se mover
Para além do corpo denso.
Se ainda pensa um pouco em mim
Quero então imaginar as nossas Almas
Encontrando-se bem aqui
Adiante desse belo fim de dia.
E quanto o sol finalmente partir
Iremos para dentro de casa
Matar toda a saudade que ainda nos resta
Estará acalmado então o meu coração.

Camisola de Cetim


É primeiro do ano e achei melhor jogar algumas coisas fora. Confesso que arrumar o guarda-roupa nessa data é uma tarefa árdua. Há a preguiça da noite anterior e a vontade de ainda desfrutar um pouco mais do dia.

Em meio há tantas roupas escondidas, encontrei aquela camisola que trajei no dia que o esperava ansiosamente. Olhei para ela e a apertei contra o peito. Já se passara algum tempo e eu me lembro de te-la usado mais uma vez, para dormir somente. Fora lavada, não obstante, eu ainda posso sentir o cheiro dele impregnado nela.

Pensei em vesti-la nessa noite, mas não consegui. Aborrecida comigo mesma, preferi me desfazer dela.

Sonhos Matutinos


Nada mais doce que sonhar com a pessoa amada. Melhor ainda quando os sonhos se parecem reais: há gente ao redor, barulho, gosto e cheiro. É possível até mesmo ouvir a voz dele, e isso é demais! Certa noite sonhei que caminhava ao lado dele, como há tempos não fazíamos. Foi uma sensação mágica entre nós. Possuía ainda os mesmos tiques e manias de outrora, o mesmo medo do relógio e desconfiança dos que passavam.

Chegamos finalmente a uma bela praça circular e ali havia alguns bancos. Sentei-me e ele permaneceu de pé. Não hesitei e abracei sua cintura como quem não o quisesse deixar partir. E de fato ele não queria. Mas chegada foi a hora. Despediu-se de mim e para minha surpresa, estávamos nós dois com os olhos marejados. Então eu o abracei e disse que o amava e o quanto era imenso o meu bem querer. E olhando nos meus olhos, disse: " E você acha que eu não sinto o mesmo?" - Abraçou-me novamente e partiu para o longe, para aquele lugar que eu jamais poderei acompanhá-lo.