sexta-feira, 23 de julho de 2010

Pensar é a fardo que o homem carrega. Queria ele poder interromper qualquer vil pensamento, mas cansado ele desiste. Não consegue. O pensamento vai além das forças humanas. Pode-se estar amarrado, mas não é possível contê-lo. Ele vai para longe, a lugares inóspitos e até inimagináveis. Basta pensar em um lugar que não existe que em um piscar de olhos, ele passa a existir no imaginário do humano que o criou.
E não é somente. O homem se une ao extrafísico também através do pensamento. É ele o veículo que os humanos e terráqueos utilizam, sem perceber, para comandar o Universo. Qualquer existência que habita esse planeta impulsiona o Universo e ele responde de igual maneira, mas em sentido oposto. Daí então o porquê de muitos sábios dizerem que o homem depende de seu pensamento.
Se uma grande maioria da humanidade passasse a impulsionar o Universo de forma positiva, que grande mundo surgiria? - E então, quem sabe entender-se-ia melhor Deus ao invés de buscar sua essência criadora em um patético acelerador de partículas.

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Se as fotografias tivessem som

Ah se as fotografias tivessem som, eu de certo viajaria no tempo e rememoraria cada instante da infância - que já não é mais récem-acabada. É engraçado como a nossa própria mente ilude a nós mesmos: não me lembro mais dos fatos como antes. Parece que a cada novo ano que se chega, mês ou ainda a cada novo dia que se inicia, parece que vou perdendo um pouco das lembranças do meu passado - até mesmo aquele que era o mais roteneiro de todos, como acordar para ir à escolinha e chorar no portão da entrada implorando à mãe para que não me abandonasse. O que havia ali que tanto me amedrontava? - Não sei, eu já não me lembro mais.
E assim vivo a vida. A cada novo dia um a menos para se recordar. Cada pessoa que se chega, é porque uma teve que partir. E ela não parte por assim desejar, na verdade ela sequer percebe que se foi. Os dias correm tão depressa como as vidas das pessoas, e com o passar das semanas e posteriormente alguns meses, e quando se dá conta: onde está aquele alguém que me era tão importante? - Ele já não está mais ali, cotidianamente como antes. E nisso, vem aquela pontada de saudade seguida de uma angústia, assim tão humana... e então procuramos nos recordar dos momentos vividos ao lado de pessoas incríveis, provocando o nosso vil cerébro e o obrigando a se lembrar de fragmentos históricos que fazem parte da nossa vida.
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Hellen da Fonseca 15/07/2010

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Letra de menino

Entre muitos papéis que habitam a minha agenda, encontrei o nome dele escrito. A letra não era a minha, não havia excessos, volteios ou enfeites como manda o estereótipo feminino. Lembrei-me então daquele dia quando o abordei para pedir o telefone. Era um assunto qualquer. Aniversário de amigo. Por que não convidá-lo? Ótimo pretexto. E foi o que fiz.
Sem opção, ele escreveu num pedaço de papel que eu mesma arrancara da minha agenda. Como dói pensar em arrancar as folhas! - Mas como era para ele, ah... não me custou nada, do contrário, foi um prazer. E quando ele escreveu, guardei carinhosamente e até me esqueci do papel. Ficou morando no interior de minha agenda durante alguns meses. E enquanto isso, nossas vidas transcorriam normalmente. Não foi preciso nenhum pedaço de papel para nos aproximarmos - nos encarregamos de fazer isso espontâneamente. Foi como fechar os olhos e sonhar acordada. Quando abri, já estávamos nos beijando.
E ainda confesso que esse precioso pedacinho de papel ficou perdido entre minhas inúmeras anotações, até que hoje finalmente o encontrei. Apareceu enquanto eu folheava as páginas, rememorando a vida de frente pra trás. E aquele papelzinho... tão singelo e tão especial. Onde tudo começou.
De tão boba, comecei a reparar em todos os trejeitos e em todos os elementos que compõem aquela obra prima. A letra é de menino mesmo, de forma, simples. O número oito não é desenhado como o do infinito. É somente uma bolinha com outra menor em cima. Tampouco, não é menos bonita - mas dá pra ver que é de menino.
O que será que ele pensava de mim quando me entregou esse papel? Será que consigo enxergar nos traços os mistérios de sua Alma? - A psicologia inventou uma técnica perspicaz que muito diz acerca da personalidade Humana quando se analisa a caligrafia. O que diriam sobre ele?
Talvez ele não pensasse em nada, como um ingênuo que não percebeu as minhas intenções de mulher. Ou percebendo-as, se fez de bobo p'ra pensar que fui eu quem o conquistei. Não sei, são cogitações. Somente aquela Alma Humana, que hoje chamo de Amor, pode esclarecer as minhas dúvidas. Mas confesso que ainda não quero deixar de tê-las, não é preciso trazer tudo à luz. Reserva um pouco para a curiosidade, que daí também se faz crescer o amor - é o que me diz a minha vil consciência.
E agora mesmo, olhando para esse pequeno pedaço de papel, sinto saudades dele.
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Hellen Fonseca 07/07/2010