Desejo agora um murro
De preferência na cara
De um alguém qualquer
P'ra acalmar-me os nervos
E descontar toda raiva
Desse dia agourento.
*
Um murro certeiro
Bem em cheio no olho
Ou no nariz pontudo
Ou em uma boca
Repleta de dentes
Cujo sorriso é metálico.
*
Um murro p'ra obstruir
E fazer sangrar as veias.
Desse soco quem sabe
Minha mão se faça doer
Mas não há problema
O que realmente importa
É o inimigo cambalear
E quem sabe cair.
Aí então eu gargalharia
Até não mais poder
Daria risos maquiavélicos
Até os olhos chorarem.
*
Malditos são eles
Não se cansam
Não se cansam de me trair.
Malditos olhos
Quase verdes
Que não conseguem dissimular
Que não sabem disfarçar
Sentimento d'amor.
*
Desejo a insensibilidade
De um cético qualquer,
Talvez um engenheiro
Ou um cientista social marxista
Ou um filósofo materialista
P'ra não mais trair a razão
E não mais trocá-la
Pelo espiritualismo mundano
Pela sensação metafísica
De não pertencer a esse lugar.
*
Desejo agora um murro
Não em algum rosto vivente
Mas em mim
De preferência nesses olhos
Quase verdes
Que não sabem dissimular
Sentimento d'amor
Ou quem sabe um soco
Nessa cabeçorra
Que não cessa o pensamento
Um instante sequer.
*
-Dai-me um pouco de sossego,
Oh vil pensamento.
Tu não te cansas de pensar?
Pois saiba que eu canso
De digerir tais informações.
Elas são densas demais
Não há algo mais sutil p'ra se pensar?
Algo mais...
Leve,
Delicado,
Macio,
Suave...?
*
A consciência às vezes
Precisa de um refúgio
Pr'a acalentar os pensamentos
E recuperar um pouco
Daquela antiga esperança
Que fora depositada
Sobre a espécie humana.
*
Não obstante,
Não encontrei ainda
Refúgio em ambiente urbano
Capaz de conter meu vil pensamento.
Só o achei no subjetivismo
No encantado Mundo das Idéias,
No Mundo Ideal
Ou se preferir, no Paraíso.
*
E cá estou eu de volta
Ao bom e velho espiritualismo
Mais ideal e menos mundano
Como matéria consciente
Cuja Essência Divina busca a forma.
Como matéria consciente
Cuja Essência Divina busca a forma.
*
*
*
(Hellen Fonseca - 07/04/2010)
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