quarta-feira, 7 de julho de 2010

Letra de menino

Entre muitos papéis que habitam a minha agenda, encontrei o nome dele escrito. A letra não era a minha, não havia excessos, volteios ou enfeites como manda o estereótipo feminino. Lembrei-me então daquele dia quando o abordei para pedir o telefone. Era um assunto qualquer. Aniversário de amigo. Por que não convidá-lo? Ótimo pretexto. E foi o que fiz.
Sem opção, ele escreveu num pedaço de papel que eu mesma arrancara da minha agenda. Como dói pensar em arrancar as folhas! - Mas como era para ele, ah... não me custou nada, do contrário, foi um prazer. E quando ele escreveu, guardei carinhosamente e até me esqueci do papel. Ficou morando no interior de minha agenda durante alguns meses. E enquanto isso, nossas vidas transcorriam normalmente. Não foi preciso nenhum pedaço de papel para nos aproximarmos - nos encarregamos de fazer isso espontâneamente. Foi como fechar os olhos e sonhar acordada. Quando abri, já estávamos nos beijando.
E ainda confesso que esse precioso pedacinho de papel ficou perdido entre minhas inúmeras anotações, até que hoje finalmente o encontrei. Apareceu enquanto eu folheava as páginas, rememorando a vida de frente pra trás. E aquele papelzinho... tão singelo e tão especial. Onde tudo começou.
De tão boba, comecei a reparar em todos os trejeitos e em todos os elementos que compõem aquela obra prima. A letra é de menino mesmo, de forma, simples. O número oito não é desenhado como o do infinito. É somente uma bolinha com outra menor em cima. Tampouco, não é menos bonita - mas dá pra ver que é de menino.
O que será que ele pensava de mim quando me entregou esse papel? Será que consigo enxergar nos traços os mistérios de sua Alma? - A psicologia inventou uma técnica perspicaz que muito diz acerca da personalidade Humana quando se analisa a caligrafia. O que diriam sobre ele?
Talvez ele não pensasse em nada, como um ingênuo que não percebeu as minhas intenções de mulher. Ou percebendo-as, se fez de bobo p'ra pensar que fui eu quem o conquistei. Não sei, são cogitações. Somente aquela Alma Humana, que hoje chamo de Amor, pode esclarecer as minhas dúvidas. Mas confesso que ainda não quero deixar de tê-las, não é preciso trazer tudo à luz. Reserva um pouco para a curiosidade, que daí também se faz crescer o amor - é o que me diz a minha vil consciência.
E agora mesmo, olhando para esse pequeno pedaço de papel, sinto saudades dele.
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Hellen Fonseca 07/07/2010

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