domingo, 15 de novembro de 2009

Um sabiá



Hoje nem bem cheguei em casa e minha mãe veio ao meu encontro. "Venha ver" e estava deveras contente, com o brilho nos olhos e assim me aproximei para olhar aquilo que ela desejava mostrar. Uma caixinha de madeira. Não tinha tampa e no seu interior um ninho de pano. Um passarinho. Tão pequeno e frágil. Nem as penas havia nascido no seu minúsculo corpo. Olhei para a criatura e senti uma aflição grande. "É só um filhote de sabiá" - respondeu ela em tom repreensivo e observei o modo que ela alimentava o pequeno, como se fosse sua própria mãe. Indaguei se ele havia caído no ninho e ela sorrindo respondeu que não, fora tirado de lá naquela tarde mesmo. Daí senti uma enorme compaixão pelo pequenino - tão novo e já privaram-lhe a liberdade - nisso ele esticava o pescoço para alcançar o alimento que ela oferecia. "Mãe, a senhora teve coragem de tirá-lo da própria mamãe sabiá por egoísmo?" E argumentou que sempre desejou ter um pássaro como aquele e prometeu dar-lhe amor para um dia abrir a porta da gaiola e deixá-lo voar durante a tarde e prendê-lo somente a noite. Depois de dizer isso, não a condenei mais, mas nem tampouco passou a minha tristeza. Ela desejava ser amiga de um pássaro. Desejava cativá-lo, ser amada por ele um dia, por isso é preciso prendê-lo.

Então, fiquei refletindo sobre o significado do verbo cativar. Possui uma sonoridade singular, se encaixa muito bem em poesias, sugere algo bom, caloroso e apaixonado. No seu sentido racional, lembro de um escravo preso em seu cativeiro.

Aí penso novamente no pobre sabiá - a comida nunca lhe passará longe do bico, jamais precisará se preocupar em consegui-la. Se vai comer hoje, amanhã ou depois somente seus irmãos se preocuparão com isso. Não dormira nenhuma noite ao relento, não sentirá frio e também jamais brigará com outros sabiás por fêmeas. Mas jamais aprenderá a voar. Até que ponto os fins justificam os meios?

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