sábado, 12 de dezembro de 2009

O Equilibrista


E um dia estando eu disfarçada disse a ele: há uma linha muito tênue que separa a perfeição da loucura. E dentro de mim pensei: caminhar sobre ela é uma dádiva dos perfeccionistas. Quanto há de insanidade em se submeter a tal empreitada? Nisso me vi sentada em uma platéia e diante de mim havia o Equilibrista e sua linha, pronto para executar o número.

A linha se encontrava no alto de um picadeiro, mas não era um circo qualquer. Era o circo da embriaguez, por isso ela não era reta. Possuía curvas e saliências ao longo de sua trajetória. Um passo em falso e a queda seria fatal: não havia cama elástica para amortecê-la. Algumas fraturas, ou talvez o pescoço quebrado - para ou teatraplégico - ou ainda um desmaio, coma ou morte.

Começou então a façanha, enquanto o equilibrista desfilava em sua própria passarela, a platéia ia a loucura, roíam as unhas, as cutículas, alguns soltavam: "ohh!" outros: "aii cuidado!!" e havia ainda os que preferiram fechar os olhos diante daquela cena. Não há nada que se possa fazer, foi ele quem desejou esse destino.

Nisso escutei sua voz: eu caminho nessa linha todos os dias - e sorriu um riso amarelo. Voltei para a realidade, despedi-me apressadamente e não nos vimos mais.

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